Abibe sociável Vanellus gregarius
Esta espécie encontra-se em perigo de extinção devido a vários factores, é portanto algo surpreendente que até 2010 tenha havido 10 registos desta espécie em Portugal., No entanto alguns dos registos referem-se certamente a um único individuo que retornou à mesma área de invernada durante vários anos seguidos (ver nota 3).
Sendo uma espécie asiática a ocorrência desta espécie em Portugal não é explicável com fenómenos meteorológicos. Os Abibes-sociáveis migram da sua zona de reprodução para a zona de invernada em bando, e ocasionalmente alguns indivíduos poderão ficar isolados juntando-se a bandos de Abibes (Vanellus vanellus) na sua migração para os locais de invernada destes. Este comportamento é típico em espécies que migram em bando como por exemplo os estorninhos, em que os Estorninhos-rosados (Pastor roseus) acompanham os Estorninhos-malhados (Sturnus vulgaris) até Portugal.
A identificação da espécie não apresenta dificuldades, mas pode ser de difícil detecção num bando de Abibes em alimentação/descanso, porque a coloração castanha das aves invernantes é bastante críptica, mas em voo, as asas brancas e pretas que lembram uma Gaivota de Sabine chamam de imediato a atenção.
Dado que é possível que um juvenil que inverne em Portugal retorne à mesma área nos anos seguintes, vale sempre a pena voltar no inverno seguinte para ver se a ave retornou.
O pilrito-canela é uma pequena limícola americana que já foi observada nove vezes até 2009 em Portugal, no entanto desde 2009 foram vistos mais 8 indivíduos, ou seja em três anos quase que o número de ocorrências duplicou e para não variar apenas 1 dos registos homologados foi feito na parte norte do pais, e os restantes no Algarve. No entanto a tendência inverte-se com mais registos a serem feitos a norte do Tejo do que a sul do mesmo, a partir de 2009, reflectindo não só o crescente número de observadores nas regiões centro e norte, mas também a descoberta de novas zonas onde a sua ocorrência pode ser considerada expectável, nomeadamente a foz do Sizandro e uma zona de prado costeiro entre Peniche e o Baleal.
No entanto o número de registos em Portugal é muito menor que o expectável. Em alguns anos, a espécie é muito frequente nas ilhas Britânicas, com a ocorrência ocasional de bandos com mais de uma dezena de indivíduos, e na vizinha Espanha em que é frequente o registo de mais de uma dezena de indivíduos por ano. Assim, comparando estas ocorrências com a situação Portuguesa em que só foram homologados nove, torna-se claro que muitas aves passam sem serem detectadas.
Esta espécie apresenta algumas dificuldades de identificação, já que à distancia pode ser confundida com uma fémea juvenil de Combatente (Philomachus pugnax), no entanto é mais pequena que esta, com um aspecto mais redondo, e uma cabeça onde se destacam os olhos que são muito grandes, o formato do bico muito característico, e em voo a ave é imediatamente identificável por não ter barra alar nem o branco na cauda.
Esta espécie deve ser procurada no final de Agosto e em Setembro, principalmente em prados costeiros, campos de golfe e prados semi-alagados ou ainda nas margens de lagoas de água doce, sendo que a sua ocorrência em estuário é excepcional. Devem ser prospectadas especialmente as zonas costeiras onde costumam aparecer Tarambolas-douradas e onde na passagem primaveril os Maçaricos-galegos costumam descansar, note-se que devido ao seu pequeno tamanho, e coloração castanha esta espécie passa facilmente despercebida, mas se estiverem tarambolas presentes ela associasse a estas facilitando a sua detecção.
Ao contrário das espécies anteriormente mencionadas, esta é africana, e é uma das espécies mais desejáveis e rara de encontrar-se em Portugal. Existem apenas 6 registos homologados, o último dos quais em 2001, no entanto na primavera de 2013 apareceram 2 aves.
Por ser uma espécie africana o padrão de ocorrência é diferente, a maioria dos registos situam-se em Março com aves que ao retornar aos locais de reprodução no norte de Africa sofrem um fenómeno designado de “overshoot” ou seja a ave na sua migração passa sem parar pelo seu destino e basicamente segue em frente. Esta situação ocorre em condições climatéricas que condicionam o comportamento da ave fazendo com que voe mais rápido do que o normal como ventos de sul por exemplo, como é um migrador nocturno passa facilmente pelo alvo sem o “ver” vindo parar à europa.
Nota 3: Alguns dos registos efectuados no estuário do Tejo em Pancas podem referir-se à mesma ave mesmo realizados em anos diferentes. Por outro lado, no inverno de 2000/2001 foi encontrado um juvenil em Dezembro de 2000 no Ludo, em Janeiro de 2001 foi feito outro registo para o mesmo local referindo-se também a um juvenil, sendo que estes dois registos, provavelmente, referem-se à mesma ave.
2000, 1-Dez a 3-Dez, Ludo, juv., M Mendes, J Pereira, P Palma, G Silva, R Tipper (Anuário 1)
2001, 20-Jan, Ludo, juv., N Fonseca (Anuário 1)
É necessário algum cuidado ao analisar os registos aceites pelo CPR já que devido aos hiatos temporais com que as aves são observadas, é possível que uma ave invernante conste de dois registos como sendo uma ave diferente, o que na minha opinião é incorrecto, e como tal esta situação, a meu ver, necessita de ser revista.
Postado por: Pedro Ramalho