Maçarico-do-campo* Bartramia longicauda
O Maçarico-do-campo é uma espécie norte americana que ocupa um nicho ecológico semelhante ao do Abibe na Europa, é portanto uma ave de prados que não se encontra normalmente em estuários e mesmo em margens de águas doce não são frequentes. Em Portugal, todas as ocorrências foram em Setembro, o que indicia uma janela de ocorrência em sintonia com a migração outonal desta espécie ao longo da costa oriental da América do norte.
1999, 22 e 23-Set, Ludo, juvenil, J Ministo, M. Mendes (Anuário 1)
2010, 29-Set a 2-Out, Santa Luzia, Tavira , 1 juv., N. Jackson e outros (Anuário 8)
Éuma raridade mesmo em termos do paleártico ocidental (WP), tendo apenas 54 registos nas ilhas britânicas, o que é muito pouco para uma limícola neártica, mesmo assim seria expectável que o número de registos em Portugal fosse maior, não o é provavelmente devido à usual combinação de factores: baixo número de observadores, distribuição dos mesmos principalmente na zona da área metropolitana de Lisboa e no Algarve, e pouco esforço dirigido para habitats propícios na altura certa. Deve ser procurado nas últimas semanas de setembro em zonas de prados costeiros, campos de golf ou terrenos arados após a ocorrência de sistemas que atravessem o atlântico.
Pilrito-acuminado* Calidris acuminata
Esta espécie asiática que é muito semelhante ao pilrito-de-colete em aparência e na preferência de habitats, é uma espécie que ocorre no extremo oposto do paleártico, e é muito rara na Europa ocidental. O único registo conhecido para Portugal enquadra-se no expectável, já que somos o país mais ocidental na Europa e o mais distante das zonas de reproduções, logo o menos provável para a sua ocorrência. Também em Espanha é uma mega-raridade com poucos registos nos últimos anos
Curiosamente o registo feito em Portugal continental diz respeito a uma ave adulto em muda para plumagem nupcial, era portanto uma ave que ou invernou em Portugal ou talvez mais provavelmente estava a migrar para a zona de reprodução tendo invernado na África ocidental.
2007, 21-Mar, ria de Aveiro, adulto em muda, P. Hottola (Anuário 6)
No entanto a probabilidade de nova ocorrência em Portugal é a de ser um juvenil em fins de Agosto ou Setembro, em linha com as ocorrências na Europa ocidental. O juvenil é relativamente fácil de identificar já que é bastante parecido com o Pilrito-de-colete mas muito mais ferrugíneo e sem o colete tão bem marcado. Deve ser procurado em habitats frequentados por combatentes como por exemplo: salinas, campos de arroz, zonas de água doce. Mas atenção que é possível a confusão com uma fêmea de combatente.
Borrelho de dupla coleira* Charadrius vociferus
Este grande borrelho caracteriza-se pela dupla coleira que lhe dá o nome, é nativo das planícies da América do Norte, e é o equivalente ecológico do Abibe tal como o Maçarico-do-campo, e como tal frequenta prados húmidos, com erva muito curta, e margens de zonas de água doce, mas também terrenos completamente secos desde que a erva seja curta.
Existe apenas um registo em Portugal, de uma ave no inverno.
1998, 28-Fev, Azambuja, R Tomé, D Leitão, C Mendes, A Cardoso (Pardela 11)
É uma raridade ao nível do WP com apenas 55 registos em Inglaterra e 20 na Irlanda, muitos dos registos são no inverno, devido à migração muito tardia desta espécie, havendo deslocações de aves devido ao mau tempo. Dos 3 registos espanhóis, 2 foram feitos em Dezembro e 1 em Maio, o que se enquadra perfeitamente num padrão de ocorrência em que as aves atravessam o atlântico no inverno e depois podem subir na primavera.
Pilrito-de-bico-fino* Calidris bairdii
Este pilrito, tal como o pilrito-de-uropigio-branco é um migrador de longa distância que faz todos os anos uma migração pelo atlântico para chegar aos seus locais de invernada na América do sul, assim seria de esperar que fosse regular em Portugal, mas tal não é o caso, existe apenas um único registo, curiosamente de uma ave invernante.
2004, 14-Dez, Ludo, R Kelsh (Anuário 6)
No entanto, em Inglaterra existem 238 registos e 132 na Irlanda, portanto é seguro assumir que a escassez em território nacional se deve mais a um esforço de cobertura inadequado do que a ser uma mega-raridade, tanto mais que em Espanha é anual, com pelo menos 11 registos concentrados em Setembro e Outubro.
A sua não detecção deve-se provavelmente a ser o calidris que frequenta os habitats mais secos, com efeito esta espécie está associada a um tipo de habitats onde seria mais expectável um borelho ou uma tarambola, deve ser portanto procurado em praias com muitos detritos, em campos de golfe e prados costeiros alagados, etc.
Um ponto importante a notar é que esta espécie é muito discreta em termos de plumagem, não chamando a atenção, mas é reconhecível pela grande projecção das primárias e no caso do juvenil pelo efeito escamado da plumagem.
*mega raridade