O universo de possíveis novas espécies em Portugal é incrivelmente extenso, na realidade estamos a falar de dezenas de espécies que podem ainda ocorrer, desde passeriformes americanos a patos europeus ou até mesmo a aves marítimas.
Dado Peniche ser bem conhecida como um dos pontos em Portugal para a observação de marítimas e gaivotas, vou falar sobre as hipóteses mais prováveis nestes dois grupos.
Gaivotas: Incrivelmente ainda podem aparecer em Portugal varias espécies de gaivotas, depois das dominicanas de 2013, que foram uma completa surpresa, existem uma série de espécies que apesar de serem esperadas ainda não apareceram.
Ichthyaetus ichthyaetus: O gigante entre as gaivotas de cabeça preta, apareceu recentemente em Espanha. A população desta espécie está a aumentar lentamente, e os registos a norte da sua área de distribuição sucedem-se cada vez com mais frequência. Um dado importante é que os registos para oeste pelo mediterrâneo estão a aumentar culminando com o registo desta espécie em Espanha em 2014. E se apareceu em Espanha, porque não em Portugal? Resta saber quando, Setembro/Outubro serão talvez os meses mais prováveis, mas numa lógica reversa, à ocorrência da Gaivota de Audouin na costa atlântica porque não em Março ou Abril? Para além de aves a percorrem a costa norte do mediterrâneo vale a pena lembrar que esta espécie já ocorreu na Madeira e nas Canárias, portanto é possível que haja movimentações de aves ao longo da costa oeste africana.
Chroicocephalus cirrocephalus: Com 4 registos em Espanha pode ser uma questão de tempo. Outra espécie a estar atento, infelizmente ao contrário das outras, esta pode facilmente passar despercebida, sendo confundível com um Guincho, especialmente os 1º invernos já os adultos em plumagem nupcial, com os seus olhos claros e capuz cinzento dificilmente passarão despercebidos. Fevereiro a Abril serão provavelmente os melhores meses com aves imaturas a acompanharem a migração dos Guinchos, sendo expectável que apareça no Algarve.
Larus glaucescens: Das gaivotas possíveis de aparecer em Portugal é esta que está provavelmente mais fora dos radares dos observadores portugueses, afinal de contas é uma espécie que frequenta as costas da América do norte, mas a costa oeste e não a leste, pensar que uma conseguiria chegar a Portugal, parece absurdo, a ave teria que atravessar um continente e o atlântico para cá chegar. E no entanto, porque não? 2 registos recentes em Inglaterra demonstram que é possível ocorrerem deste lado do Atlântico e um registo nas Canárias, em 1992, demonstra claramente que pode aparecer em Portugal. Ao contrário dos países do norte onde os 1º invernos passam provavelmente despercebidos, em Portugal, esta espécie chamará com certeza a atenção em qualquer idade.
Larus thayeri: É a espécie mais esperada, dada a sua área de distribuição, tamanho da população, e ocorrência em Espanha e na Irlanda. Será na realidade apenas uma questão de tempo até aparecer em Portugal. Esta era uma espécie que toda a gente estava à espera em Janeiro-Fevereiro de 2014 com a invasão das gaivotas polares, mas que infelizmente não aconteceu, apesar de ter aparecido uma provável em Aveiro. Este taxa é algo complicado porque é intermediário entre a Larus glaucoides kumlieni e a Larus smithsonianus e consequentemente é bastante variável, além de ter uma posição taxonómica bastante debatida, mas é sem dúvida uma gaivota a procurar nos meses de inverno nos locais de ocorrência de outras gaivotas polares. Por isso, quando encontrarem uma Larus glaucoides kumlieni muito escura ou uma Larus argentatus muito clara estejam atentos à possibilidade de ser uma thayeri!!
Rhodostethia rosea: O adulto desta espécie é possivelmente uma das mais bonitas espécies de gaivotas, sendo o 1º inverno o mais provável de aparecer. Dado o pequeno tamanho da população e as zonas de ocorrência no inverno será preciso um mega evento para trazer uma a Portugal. No entanto em 2009 apareceu uma em Espanha e em 2014 num evento semelhante ficou uma a poucos km da fronteira. Pode ser que seja no próximo evento. A espécie é de fácil identificação, mesmo assim convêm ter em atenção que é uma espécie muito pequena, pouco maior que a gaivota-pequena com a qual pode ser confundida. Quando aparecer será num inverno muito rigoroso, num período de influxo de outras gaivotas polares, pode aparecer junto à costa, mas também em albufeiras no interior.
Pagophila ebúrnea: Talvez a gaivota mais desejada pelos laurofilos portugueses, esta é a espécie de sonho para qualquer observador de gaivotas, existem basicamente 3 tipos de raridades, o 1º tipo são as raridades que são expectáveis de vermos mais ano menos ano, na realidade é apenas uma questão de tempo até quase todas as espécies raras ocorrerem de novo algures, portanto podemos esperar. O 2º tipo são as raridades que se aparecerem começamos logo a fazer planos para ir vê-las. E o 3º em que quase todas estas espécies se incluem é o grupo que nos leva a esquecer o plano e sair porta fora para ir ver a ave, porque só vamos ter esta hipótese. A Gaivota-marfim mais que todas as outras é o símbolo máximo disso mesmo, e se alguma vez aparecer em Portugal é arrancar e não parar até chegar à ave!!