Bom surpreendentemente a lista é muito longa, dada a posição geográfica de Portugal estamos nos limites da área de ocorrência de várias espécies da macaronésia, espécies essas que são nalguns casos observadas com alguma frequência em águas continentais. No entanto essas observações indicam que o período de ocorrência acontece entre meados de julho e meados de agosto, altura em que o vento é predominantemente do quadrante norte e portanto adverso. Por outro lado, estamos muito longe do limite sul da área de distribuição de algumas espécies árticas, o que dificulta em muito a sua ocorrência bem como de espécies que sendo no norte europeu são costeiras. Torna-se assim complicado para as espécies costeiras cá chegarem devido à geografia do noroeste espanhol, espécies que ocorrem com alguma frequência nessa zona nunca chegam a descer. Por fim, temos as espécies do outro lado do atlântico, as quais podem atravessar, mas normalmente os sistemas que as forçam a fazer a travessia “batem” demasiado a norte para alguma cá chegar.
Mas vendo aquilo que é possível, não provável, mas possível, começamos com 4 espécies de patos marítimos que são possíveis de ocorrer. Todas as espécies são muito difíceis de ocorrer por vários motivos, mas temos uma grande vantagem em relação ao resto da europa, quase todos eles chamariam imediatamente à atenção e não ficariam perdidos no meio de um bando de uma espécie semelhante.
Somateria spectabilis: Com apenas quatro registos em Espanha, não é fácil, mas este pato-ártico pode eventualmente chegar a Portugal. No entanto, vendo os registos das zonas do paleártico a norte de Portugal tal parece difícil, mas curiosamente no lado oeste do Atlântico esta espécie ocorre frequentemente a latitudes mais baixas que no lado leste. Este facto aliado ao de esta espécie ter ocorrido nos Açores leva-me a pensar que é possível uma ocorrência de uma ave com origem neártica num sistema climatérico como o que é responsável pela ocorrência em Portugal de gaivotas originárias do ártico canadiano.
Melanitta americana: É talvez a espécie de pato-marítimo mais provável de aparecer como nova espécie em Portugal, dada a grande abundância na costa leste da América do norte. Infelizmente os juvenis são muito facilmente confundíveis com Melanitta nigra, o mesmo é verdade para as fêmeas, por isso restam os machos adultos que serão com certeza uma pequena parte dos divagantes no WP. Visto já terem sido encontrados mais de 2 dezenas no WP, todos eles machos adultos, é razoável assumir que igual número de fêmeas e muitos mais juvenis ocorreram. O mais difícil é dar com eles, e aqui talvez seja mais fácil em Portugal onde o número de Melanittas é muito baixo quando comparado com os países mais a norte, continua a ser uma agulha no palheiro, mas o palheiro é mais pequeno.
Melanitta deglandi: esta espécie, e com isto estou a assumir o split iminente, é uma que está realmente fora do radar dos observadores. Basicamente se vemos um pato-preto com branco na asa pensamos sempre em Melanitta fusca e nunca nos lembramos que fusca é apenas um de 3 taxas que são muito parecidos distinguindo-se por pormenores de coloração, e pela estrutura da cabeça. Bom, e porque é que eu acho que é possível? Porque é uma espécie frequente ao longo da costa leste americana e porque qualquer melanitta que não nigra que ocorra em Portugal é por definição uma raridade e vai ser analisado com atenção. Enquanto, um deglandii imaturo/fêmea na Irlanda, por exemplo, vai passar despercebido por se assumir logo fusca, em Portugal mesmo que o mesmo aconteça, fusca é uma raridade e vai ser dada atenção à ave, possibilitando a correta identificação da mesma. Melanitta stejnegeri: esta espécie asiática pode ocorrer em Portugal, e pode porque já chegou a Espanha, e mais ainda em Vigo!! A escassos km da fronteira, portanto apesar de ser teoricamente impossível dada a área de ocorrência o facto é que…
Bucephala islandica: Esta espécie tem um número de registos surpreendentemente baixo na Europa, o que é de estranhar já que tem populações na Islândia, e na costa leste americana que podiam perfeitamente originar a que algumas aves cá chegassem. Mais uma vez, acho que temos uma vantagem em relação ao resto da Europa, qualquer Bucephala que apareça em Portugal será sempre uma mega-raridade. Enquanto que no resto da Europa um juvenil de Bucephala islandica ficará perdido no meio dos Bucephala clangula, ora isso garante que se um Bucephala islandica vier cá parar será quase de certeza bem identificado porque atrairá a atenção de muitos, enquanto na Europa irá quase de certeza passar despercebido.
Postado por: Pedro Ramalho